quinta-feira, 31 de maio de 2007

Epilepsia: origem demioníaca ou neurológica?


A palavra epilepsia deriva do verbo grego epilamvanein, que significa ser atacado. Esta terminologia deriva da ideia de que a epilepsia representava os ataques dos deuses, ou de espíritos malévolos como castigo.

Em 400 a.C., Hipócrates demonstrou que a epilepsia era uma doença cerebral, cujo tratamento deveria ser feito através de uma dieta e medicamentos adequados, deixando de ser uma doença vista à luz da religião. Os conceitos mais recentes sobre epilepsia advieram dos trabalhos de médicos e cientistas em meados do século XIX, John Hughlins Jackson estabeleceu a diferença entre as categorias das crises, cada uma com a sua própria fisiologia e semiologia, distinguindo-se assim na abordagem científica para o estudo do fenómeno da epilepsia.

A epilepsia não é uma doença específica, nem mesmo uma síndrome individual, é antes uma vasta categoria de sintomas complexos resultantes de disfunções cerebrais. Estas desordens orgânicas podem ser secundárias a uma variedade de processos patológicos. Uma das particularidades relevantes que caracterizam a epilepsia é o ataque epiléptico que pode ser definido como um episódio de confusão de sentimentos, de movimentos e de consciência causados por uma excessiva descarga eléctrica no córtex cerebral de uma forma repentina e anormal. Estes ataques podem ser consequência de anormalidades estruturais, metabólicas e funcionais, de uma vasta panóplia de doenças genéticas e outros.

A guerra dos neurónios


A epilepsia não é uma doença específica, nem mesmo uma síndrome individual, é antes uma vasta categoria de sintomas complexos resultantes de disfunções cerebrais. Estas desordens orgânicas podem ser secundárias a uma variedade de processos patológicos.

Uma das particularidades relevantes que caracterizam a epilepsia é o ataque epiléptico que pode ser definido como um episódio de confusão de sentimentos, de movimentos e de consciência causados por uma excessiva descarga eléctrica no córtex cerebral de uma forma repentina e anormal. Estes ataques podem ser consequência de anormalidades estruturais, metabólicas e funcionais, de uma vasta panóplia de doenças genéticas e outros.
Os termos desordem convulsiva e ataques cerebrais podem também ser usados como sinónimos de epilepsia; todos se referem a episódios proximais de disfunções cerebrais que se manifestam através de alterações estereotipadas no comportamento, como por exemplo abotoar e desabotoar a roupa, movimentos mastigatórios, entre outros.

Uma variedade de epilepsias têm sido categorizadas e definidas não apenas pelos tipos de ataques que as pessoas manifestam, mas também através de características clínicas associadas. Síndromes epilépticas específicas têm sido identificadas através de padrões dos tipos de crises associados à recorrência dessas mesmas crises, idade de início, sinais neurológicos em associação com sinais clínicos, resultados electroencefalográficos, presença ou ausência de casos na família e prognósticos. As epilepsias e as síndromes epilépticas estão divididas de modo geral em desordens idiopáticas e sintomáticas. As primeiras, são de modo geral benignas, no sentido em que não estão associadas a lesões cerebrais, anormalidades neurológicas ou deterioração mental. Este tipo de epilepsia é limitado e responde prontamente perante fármacos. Os factores genéticos são factores importantes a ter em conta, bem como as manifestações associadas à idade.

As epilepsias sintomáticas são aquelas em que as crises e as consequências são atribuídas a lesões identificadas no cérebro, ou a outra etiologia específica.
A epilepsia é mais do que ter uma crise, é um grupo de condições neurológicas cuja característica principal é a frequência. As crises epilépticas são manifestações clínicas que resultam da descarga excessiva, sincrónica e anormal de neurónios localizados predominantemente no córtex cerebral.

Diagnóstico


O diagnóstico de epilepsia é feito essencialmente pela conversa com o doente ou acompanhante. A descrição das crises pelo doente ou pelos seus familiares é, na maior parte das vezes, suficiente para o profissional de saúde fazer o diagnóstico de epilepsia e respectiva classificação. Torna-se, pois, importante que os doentes se façam acompanhar de uma testemunha das crises quando vão à consulta. Contudo, por vezes existe necessidade de recorrer a exames que ajudem a classificar ou determinar com mais rigor a possível causa de alguns tipos de crise. Entre esses exames é muito frequente pedir-se o electroencefalograma (E.E.G.), que avalia as descargas eléctricas cerebrais e pode ser uma ajuda preciosa na determinação do tipo de epilepsia. No entanto, o E.E.G. pode ser normal em doentes epilépticos e, por outro lado, também pode mostrar alterações orgânicas no cérebro em doentes sem epilepsia.

Epilepsia ao longo dos tempos....

Assume-se que a epilepsia é tão antiga como a humanidade. Há cerca de 3000 anos atrás, foi feita pela primeira vez uma descrição completa de um tipo de crise epiléptica: a secondarily generalized major seizure, na Mesopotâmia (novo Iraque). Já nesta altura, esta doença do sistema nervoso era representada em papiros e atribuída a uma entidade maléfica.
Foram encontrados outros casos históricos antigos no Egipto em 1600 d.C., em 1700 d.C. na China, na Índia cerca de 1000 d.C. e esculpidos numa pedra na Babilónia em 500 d.C.
Os gregos, criadores do termo epilepsia (epilhyia = surpresa, ser apanhado de repente), acreditavam que só um deus seria capaz de possuir um homem, privando-o dos seus sentidos, provocando-lhe uma queda e convulsões e, depois deixá-lo como se nada tivesse acontecido; apelidavam a epilepsia de "Doença Sagrada".

Há cerca de 2400 anos atrás deu-se a conhecer a epilepsia através do livro On the Sacred Disease, que foi o primeiro a abordar esta temática, fazendo parte de um grande corpo de trabalhos escritos de um vasto número de médicos da “ escola hipocrática”. O autor do livro, Hipócrates, pai da medicina, atribuía a epilepsia a uma consistência anormal do cérebro causada pela superabundância de fleuma. Afirmava que a causa desta doença não estava em espíritos malignos, mas sim no cérebro, desfazendo deste modo os mitos sobrenaturais. Sugeria como tratamentos uma dieta adequada e o uso de medicamentos.

Os romanos designavam a epilepsia de "Mal Comicial", uma vez que se suspendiam os comícios cada vez que um dos participantes sofria um ataque, ficando-se aguardar um sinal de bom presságio para se retomarem os mesmos. Os romanos designavam a epilepsia de "Mal Comicial", uma vez que se suspendiam os comícios cada vez que um dos participantes sofria um ataque, ficando-se aguardar um sinal de bom presságio para se retomarem os mesmos.

Curiosamente, a responsabilidade da lua ainda hoje está presente em algumas regiões de Portugal onde não se deixam as fraldas a secar, ao luar, para os bebés não contraírem a doença. Apesar de todas estas concepções fantasiosas já terem sido colocadas em dúvida por Hipócrates (460-375 A.C.), na Idade Média continuaram a aceitar-se estas interpretações sobrenaturais: exorcizavam-se os epilépticos ou praticavam-se benzeduras.

Durante largos séculos, estas interpretações permaneceram, acreditando-se ainda que a epilepsia pudesse ser uma doença contagiosa ou mental, e ainda hoje não é raro as pessoas menos esclarecidas discriminarem os epilépticos ou socorrerem-se de medicinas alternativas para combaterem os espíritos. Foi apenas em 1873 que o neurologista inglês Jackson estabeleceu que a epilepsia se devia a descargas da substância cinzenta cerebral.

Tipos de Epilepsia


Actualmente, conhecem-se mais de trinta tipos de crises. As mais comuns são a Crise Generalizada Tónico-Clónica, Ausência de Crise (petit mal), Crise Mioclónica, Crise Atónica, Crise Parcial Simples, Crise Parcial Complexa e Estado de Mal Epiléptico. A mais conhecida é a Crise Generalizada Tónico-Clónica (Grand Mal Seizure), na qual a vítima chega a perder a consciência e o corpo fica rígido após desmaiar, há uma paragem da respiração, a face fica arroxeada, podendo haver perda de urina e/ou mordedura da língua. Os braços e as pernas entram em convulsão e tremem de forma incontrolável. Estes episódios ocorrem em menos de cinco minutos. Posteriormente à crise reaparece a respiração, mas é possível que o indivíduo se sinta confuso e cansado antes de voltar à normalidade. Sabe-se que metade dos casos são sintomáticos, cujas causas se devem a mudanças anormais na estrutura do cérebro, tais como tumores, trauma ou inflamação. Contudo, noutros casos nem sempre se consegue detectar esses pormenores. Habitualmente, pode ser confundida como uma crise cardíaca ou um acidente vascular.

A Ausência de Crise (Petit Mal Seizure) é descrita como uma paragem súbita durante segundos, que por vezes é acompanhada de pestanejo ou movimentos mastigatórios. Este tipo de crise apresenta recuperação rápida, mas o doente não se recorda destes episódios. É mais comum em crianças e quando não é bem diagnosticada e reconhecida pode originar problemas na aprendizagem.

Na Crise Mioclónica apresentam-se no doente contracções musculares súbitas e maciças atingindo todo o corpo ou partes do mesmo. Não deve ser confundida com uma coordenação motora deficiente.

A Crise Atónica descreve-se como uma queda súbita, sem perda de conhecimento, em crianças ou adultos. Tem uma duração aproximada de 10 a 60 segundos. Este tipo de crise também não deve ser confundida como uma coordenação motora deficiente ou até mesmo falta de jeito.

Na Crise Parcial Simples é comum as convulsões serem limitadas a uma área do corpo, mas podem estender-se as outras áreas. Estas podem generalizar-se e provocar uma crise Tónico-Clónica. É habitual as vítimas terem sensação de formigueiro ou picada percorrendo uma ou mais áreas corporais. Também pode acontecer os sujeitos visualizarem ou ouvirem coisas que não estão presentes, acabando por descrever uma sensação inexplicável de medo ou prazer, cheiros ou gostos desagradáveis.

A Crise Parcial Complexa descreve-se como uma paragem seguida de movimentos mastigatórios e automatismos, jeitos desajeitados de mexer na roupa, agarrar ou manusear objectos. Tem a duração de alguns minutos, seguindo-se confusão após a crise que pode ser mais longa do que a própria crise, ocorrendo também amnésia para o ataque.

No Estado de Mal Epiléptico as convulsões seguem-se umas às outras, sem haver entre elas recuperação de consciência. (Liga Portuguesa Contra a Epilepsia, 2006) Actualmente, um vasto número de fenómenos clínicos são reconhecidos como crises epilépticas, nas quais, a maioria delas não são bem compreendidas e podem de facto, reflectir mecanismos neuronais, que de alguma forma diferem dos processos psicopatológicos tradicionalmente considerados como epilépticos.

Podem surgir vários tipos de comorbilidades que complicam o acesso e o plano de tratamento, tais como, dificuldades de aprendizagem, deficiências neurológicas, problemas psicológicos e psiquiátricos, particularmente em grupos de idades mais avançadas.

É necessário reconhecer que no paciente afectado, as condições são inteiramente compreendidas de acordo com cada indivíduo, e é importante conhecer até que ponto esta doença afecta as capacidades e a qualidade de vida do indivíduo.

Sede e Delegação do Porto: Av da Boavista, 1015-6º - Sala 601
4100-428 Porto.
Tel/fax: 22 605 49 59
e-mail: epicentro.porto@oninet.pt

Delegação de Coimbra: Av. Bissaia Barreto, 268 r/c A
3000 - Coimbra.
Tel: 239 482 865

Delegação de Lisboa: Rua Carlos Mardel, 107-3ºA
1900-120 Lisboa
Tel: 21 847 47 98

e-mail: epicentrosul@hotmail.com

Que fazer numa crise convulsiva?